Ela atravessou a casa andando devagar,
deixou-se fazer barulho, e o silêncio era cortado
apenas pelo som dos seus passos fazendo a madeira
ranger.
Caminhou até a varanda onde Moses estava sentado,
olhou as ondas por alguns segundos e entregou a ele uma caixa.
- O que são?
- Suas cartas, todas elas...
- Por que está me mostrando isso?
- Quero que você sinta.
- Sentir o quê?
- O cheiro...
E então ela se sentou em um banco, ainda olhando o oceano.
Era como se estivesse mergulhando em algo que nenhuma outra
pessoa poderia entender.
''Suas cartas tem cheiro de antigamente,
e antigamente tem cheiro de domingo,
e o domingo tem cheiro de sol,
de grama,
de ação,
de água,
de sorriso,
de liberdade,
de mar,
de felicidade,
de conquista,
de música,
de entusiasmo,
de árvore,
de entrega,
de nuvem,
de rede,
de azul,
de coração,
de luz,
de lençol,
de janela,
de vento,
de amigos,
de abraço,
de maçã,
de satisfação,
de movimento,
de sorriso,
de viagem,
de segurança,
de você.
As suas cartas tem cheiro de antigamente e
antigamente tem cheiro de domingo
e o domingo tem seu cheiro, o domingo sempre
tem seu cheiro.
Cheiro de tudo quando não falta nada, cheiro
de calma, cheiro de estar completo.''
Moses ainda está parado, olhando para ela que parecia estar
pensando em algo distante, olhou as cartas que ela havia guardado
com cuidado por tanto tempo, e pensou que aquele era apenas
um jeito, dela dizer que ainda era feliz.